"QUEM SABE FAZ A HORA NÃO ESPERA ACONTECER"

Vandré

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domingo, 14 de março de 2010

ALIANÇA EM TESTE


Uma pontual divergência sobre a construção de um estaleiro na praia do Titanzinho, em Fortaleza, acabou abrindo uma ferida política na principal aliança de sustentação do poder no Ceará. Para alguns, algo meramente contornável e sem grandes consequências. Mas o fato é que a trincheira sobre o assunto já foi formada e quase ninguém pode se dar ao luxo de ficar em cima do muro, como alguns políticos próximos & ou que dependem & de ambos. Têm de escolher entre ficar do lado do governador Cid Gomes (PSB) e a prefeita Luizianne Lins (PT).

As juras de eterna amizade de Cid na posse de Luizianne como presidente do PT estadual, em fevereiro último, não estancou a mais grave queda-de-braço administrativa entre eles desde que assumiram os dois mais importantes cargos públicos no Ceará. Mesmo que nem ``a indústria naval do mundo inteiro`` vá acabar com a amizade deles, como garantiu o governador, o confronto para convencer população e políticos de seus pontos de vista continua.

E o que começou como uma simples diferença de postura, agora se transforma em troca constante de farpas e demonstrações de impaciência de ambos os lados. Na última quarta-feira, Luizianne engrossou o tom e classificou a articulação pró-estaleiro de ``manipulação`` e ``falta de respeito`` com os moradores do Serviluz & bairro onde se localiza o Titanzinho.

Ela se referia ao abaixo-assinado em favor do equipamento no local por seu correligionário, o presidente da Câmara Municipal de Fortaleza, Salmito Filho (PT). O documento foi entregue na última terça-feira ao governador, com algumas assinaturas repetidas e nomes escritos com mesma caligrafia, outras sem número de identidade.

Cid, por sua vez, tem sido enfático na defesa do projeto e dos benefícios que defende trazer para os moradores do Titanzinho. Mas, até agora, tem mantido a diplomacia e diz que colocará a decisão final ``nas mãos da população``. Na busca de adesões, tem gastado energia em mostrar os benefícios do projeto, sobretudo com a promessa de gerar 1,2 mil empregos.

Estaleiro à parte, como diria o deputado João Jaime (PSDB) & líder tucano na Assembléia Legislativa & ``a política é feita de gestos``. A começar pela troca de elogios e a proximidade demonstrada pelo governador e pelo senador Tasso Jereissati (PSDB) no último dia 5, em Sobral. Embora estejam de lados opostos em âmbito nacional, os dois não deixaram de lado a amizade iniciada na década de 1980, época na qual Ciro Gomes (PSB), irmão do hoje governador, tornou-se afilhado político de Tasso, e quando Cid deu os primeiros passos na política estadual, como articulador político da Secretaria de Governo (Segov).

Para além das relações familiares, o apoio dos tucanos à administração Cid nas votações na Assembleia Legislativa tem sido quase incondicional - a despeito de o atual governador ter sido o responsável por interromper, em 2006, os 20 anos de hegemonia tucana no Estado. Mas, nem bem terminou a última eleição, a derrota de Lúcio Alcântara (então no PSDB, hoje no PR) foi esquecida e o PSDB desembarcou, com dois secretários, no novo governo.

No caso do estaleiro, os tucanos aproveitaram para dar nova demonstração de fidelidade ao Executivo e, de quebra, botar mais lenha nas divergências entre a prefeita e o governador.

Na Assembleia, o PSDB apoiou, de forma incondicional, o estaleiro defendido por Cid, enquanto os petistas se dividem e, em alguns casos, evitam falar no assunto.

Tempero eleitoral
As divergências ameaçam tomar maiores proporções em função da proximidade do período eleitoral. Não bastasse a polêmica, em torno do estaleiro, é travada uma disputa nos bastidores da aliança pela indicação de uma das duas vagas de senador que estarão em disputa. O PT deseja lançar José Pimentel, mas o governador quer que o partido se limite a ocupar uma vaga na chapa majoritária - e hoje já detém o posto de vice-governador, do qual não quer abrir mão.

Para completar, a posição que os petistas querem ver ocupada por Pimentel pode, pelos planos de Cid, acabar nas mãos de Tasso Jereissati, arqui-inimigo do partido de Luizianne.

Há, ainda por cima, um cenário nacional, que ameaça colocar os irmãos Ferreira Gomes em um lado da disputa federal diferente daquele no qual estará Lula - e o arco em torno do Governo Federal tem sido o principal sustentáculo da aliança local.

Até agora, contudo, ainda não se sabe as sequelas que as divergências do momento podem gerar para a grande colcha de retalhos formada em 2006, para eleger Cid Gomes. Por trás dos problemas conjunturais de agora, visões distintas de governar, traduzidas em trajetórias políticas e administrativas bem diferentes. Nas próximas páginas, O POVO percorre o universo das semelhanças e das diferenças entre os principais dirigentes da política cearense e mostra o que os
une e o que pode separá-los na próxima eleição.
O POVO

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