"QUEM SABE FAZ A HORA NÃO ESPERA ACONTECER"

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quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Alexandre defende unificação do calendário eleitoral no País


Por que escolher uma candidatura de senador sem ter nenhuma experiência de mandato eletivo anteriormente? A resposta de Alexandre Pereira (PPS), ao questionamento dos repórteres, foi taxativa: "eu já havia sido candidato a vice em 2008 (vice-prefeito na chapa de Moroni Torgan) e sabia que era o momento de testar meu nome nas urnas". Mesmo o objetivo parecendo modesto, o candidato único ao Senado na chapa PR-PPS, Alexandre Pereira, se apresenta como "a novidade" entre os postulantes a senador. Ele reconhece as dificuldades de uma candidatura majoritária, que não decolou nas pesquisas de opinião até agora, mas não perde as esperanças.

Sobre os grandes temas nacionais que terá que discutir, caso eleito, enumerou a reforma política com foco no sistema eleitoral e no fim da reeleição para cargos do Executivo e a questão do desenvolvimento regional, como prioridades. Além disso, denominou a atual organização eleitoral de "confusa", defendeu a redução no mandato dos senadores e lamentou a "destruição das instituições" praticada pelo Governo Lula, segundo ele.

A respeito do PPS, ele admitiu um certo constrangimento por conta de o candidato ao governo em sua chapa, Lúcio Alcântara (PR), ser apoiador de Dilma Rousseff, enquanto o PPS e ele estão com José Serra. Pelo gosto dele, todos os partidos da oposição no Estado (PR, PPS, PSDB e DEM) deveriam ter formado um único palanque que teria um candidato "novo" ao Governo, e "a força de Tasso Jereissati e Lúcio Alcântara disputando as duas vagas de senador". Quando falou sobre a sua experiência eleitoral, sobrou crítica também para a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), adversária dele e de Moroni Torgan na disputa pela Prefeitura de Fortaleza, em 2008.

Trajetória

Líder na atividade empresarial, tendo sido dirigente do Centro Industrial do Ceará (CIC), Alexandre Pereira diz que foi levado a entrar na militância político-partidária por ter chegado à conclusão de que nestas funções classistas não poderia contribuir com a sociedade cearense da forma como realmente achava necessário.

"Tínhamos estudado no CIC, a questão do Plamefor, ainda na época do (prefeito de Fortaleza) Juraci Magalhães. E tentei ressuscitar a ideia com a prefeita Luizianne, mas não logrei êxito. Então questionei: qual é a Fortaleza e o Ceará que teremos para os próximos 20 anos? Não via planejamento estratégico para isso. Confesso que isso (entrar na política) não me passava pela cabeça, achava que faríamos as transformações importantes, representando uma categoria, mas não conseguimos", colocou, justificando seu ingresso ao Partido Progressista (PP) e, posteriormente, a candidatura a vice-prefeito na chapa de Moroni Torgan (DEM) em 2008.

Sobre a primeira derrota em eleições, Pereira afirmou que obteve aprendizado. Segundo ele, a fragilidade do sistema político-eleitoral e a pouca conscientização do eleitorado contribuíram para a vitória de Luizianne Lins (PT) à Prefeitura de Fortaleza, há dois anos, ainda em 1º turno.

"Estávamos dez pontos à frente nas pesquisas, a 45 dias da eleição. E quando começou a propaganda eleitoral, ela virou e ganhou no primeiro turno. Ela usou projetos com maquetes virtuais, programas eleitorais bem-feitos e acabou se elegendo. Passou a campanha inteira falando do Hospital da Mulher, se reelegeu prometendo o Hospital da Mulher e vai terminar a gestão dela e a obra não é concluída. Para você ver como parte do eleitorado é muito fácil de ser iludida", afirmou.

Regional

Pereira citou que mais de 30 municípios cearenses ainda dependem da política de abastecimento do "carro-pipa" e isso remete a uma discussão mais aprofundada sobre o desenvolvimento regional com uma reestruturação da Sudene e do Banco do Nordeste, por esta ser uma realidade da Região.

"Mais de 18% dos municípios cearenses não são ligados por estradas transitáveis. Quer dizer, o Ceará ainda padece de infraestrutura e quando falo isso, posso me referir também ao Piauí, Maranhão, Rio Grande do Norte e Paraíba. O Nordeste passou por uma fase de crescimento, mas se não superarmos esses problemas agora, voltaremos a nos distanciar dos maiores centros", alertou o candidato, colocando o tema como uma das bandeiras que levará ao Congresso Nacional, caso eleito.

O Senado da República precisa também se debruçar sobre a reforma política, aconselha. Há, no entanto, dentro da reforma, outras prioridades afora aquelas já difundidas como o financiamento público de campanha e o voto em lista fechada. "Defendo, inclusive, uma revisão no mandato de senador. Deveria ser só quatro anos. Reduzir o mandato do senador é importante porque atualmente é muito confuso. Até pouco tempo, 45% dos eleitores cearenses não sabiam que teriam que votar em dois senadores. E daqui a quatro anos só vota em um senador. É muito confuso", detalhou.

Um ponto dos mais necessários, para ele, é a discussão em torno da possibilidade de realização de eleições unificadas para os cargos de vereador a presidente da República. "A fórmula atual, eleição a cada dois anos, gera um custo muito alto para o País. A sociedade não suporta mais este custo", enfatizou, ao acrescentar que os ocupantes de cargos do Executivo (prefeito, governador e presidente da República) não deveriam ter direito à reeleição, mesmo que para isso fosse necessário aumentar o mandato eletivo de quatro para cinco anos, na reforma política.

"Geralmente, quem ocupa cargo no Executivo, acontece como aqui no Ceará, em que o atual governador passou dois anos fazendo uma engenharia política já pensando na reeleição. Mas não é só ele. Quem está no Executivo sempre se preocupa com isso. Por isso, a legislação deveria mudar", aconselha.

Alexandre reforçou ainda que o atual formato de disputa permite que os políticos sejam candidatos a cada dois anos apenas para fazerem um "recall", de olho em eleições posteriores. Isso, no entendimento dele, prejudica a escolha do candidato pelo eleitor.

Incoerência

Alexandre Pereira reconheceu que há, atualmente, uma degeneração no sistema político-partidário brasileiro que gera, não raro, incoerências.

"Eu até tenho que fazer um mea-culpa e confessar que vivo uma incoerência aqui no Estado. O Dr. Lúcio pede voto para Dilma; e eu, para o Serra. Nacionalmente, meu partido é mais Serra até do que o PSDB (risos). Mas, aqui nós abrimos uma exceção para apoiar o PR que não está no arco de apoio do PPS nacional porque era um projeto da oposição", revelou, ao destacar que embora não tenha havido um "acordo" com a chapa formada por DEM e PSDB, a constatação da sua chapa foi que duas candidaturas na oposição seria a melhor estratégia.

Disputa

Confrontado com os números das pesquisas de intenção de voto que apontam apenas três candidatos com possibilidades reais de eleição para as duas vagas, estando ele fora da lista, Pereira reconheceu as dificuldades, mas disse não desanimar.

"Eu venho fazendo uma campanha determinada em mostrar que se pode fazer um Estado diferente, através de novas lideranças. As pesquisas expõem aquilo que eu já sabia: que sou desconhecido no Interior e só tenho algum conhecimento na Capital pela campanha que fiz com o Moroni e com setores da classe mais alta por ter militado no movimento empresarial", justificou, ao dizer que espera ainda crescer nestes últimos 15 dias que restam de campanha.

Alexandre denunciou que, na disputa para Senador, está havendo "um gasto de dinheiro absurdo". "O senador Tasso, em alguns municípios, quando as pessoas perguntam, tem pedido votos para mim. Mas depois eu chego ao local, e a liderança diz que chegou outro candidato e ofereceu mais ´estrutura´. E eu acho isso muito triste. Eu acho que em 50 anos não teve ninguém que se elegeu comprando votos para senador, que é uma campanha majoritária. Mas agora poderá ter", disse, sem citar nomes.

O presidente estadual do PPS, ao passo que disse não querer sair da política, em caso de não eleição, assegura não se ver disputando um cargo proporcional como deputado estadual e federal, por exemplo. "Eu sabia que a eleição para senador seria muito difícil. Mas alguns pontos me motivaram: eu poderia mostrar mais claramente as minhas ideias, depois poderia apoiar a campanha do Dr. Lúcio Alcântara, e o outro era a possibilidade de apoiar a candidatura do Tasso. Mas não me vejo candidato a deputado estadual e federal nos próximos anos", afirmou seguramente.

A respeito do Senado, Alexandre disse estar preocupado com a posição da Casa diante de um futuro governo do PT. Caso seja eleito, ele disse esperar uma Casa que resgate a antiga imagem de "intocável" diante dos escândalos que acontecem no País e afirmou que não deve haver subserviência e "silêncio" diante das vontades do Poder Executivo federal.

"O Senado não pode ser uma Casa silenciosa. Eu li que o objetivo do presidente Lula, em detrimento do número de governadores, é fazer uma maior bancada de senadores. Isso é muito perigoso", alegou. Em caso de vitória da candidata do PT ao governo federal, Dilma Rousseff, Alexandre, sendo eleito, disse lutar para não deixar a Casa silenciar.

INÁCIO AGUIAR/ ANDRÉ ALMEIDA
REPÓRTERES

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