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quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Fim de mandato. Em sua despedida, Tasso diz que Lula foi ''decepção''


Sete anos e nove meses após ter subido pela primeira vez à tribuna do Senado, Tasso Jereissati (PSDB) despediu-se ontem da Casa com um discurso duro, quase rancoroso, que abreviou em 14 páginas um mandato inteiro de críticas ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Embora melancólico em alguns momentos, o adeus do tucano primou pela aspereza. Tasso chamou Lula de “decepção” e fez questão de lembrar, uma a uma, as acusações da “enciclopédia de escândalos” que, segundo ele, abalaram o Palácio do Planalto.


“Chama a atenção o fato de que nada menos que dois ministros da Casa Civil, José Dirceu e Erenice Guerra (ambos do PT), caíram por envolvimento em escândalos. Fica claro que ali, no coração do governo, era onde a serpente punha seus ovos”, atacou Tasso, depois de ter listado nominalmente outros personagens questionados na Justiça por supostos desvios administrativos.


Foram cerca de 40 minutos de alfinetadas contundentes contra Lula, que é considerado o maior responsável pela inédita derrota de Tasso nas urnas, no último mês de outubro. O petista comprou a briga contra o tucano e, durante a disputa eleitoral, não sossegou até garantir os quase cinco milhões de votos que elegeram Eunício Oliveira (PMDB) e José Pimentel (PT) para a bancada cearense no Senado.


Ao dar sinais de ressentimento, Tasso chegou a comparar o presidente com o anti-herói literário Macunaíma, do escritor brasileiro Mário de Andrade. “(Trata-se de) alguém que apenas transita pelo mundo ao sabor do acaso, sem outro fim ou projeto que não seja o da própria sobrevivência, capaz de tudo para consegui-la. Lula se vangloria de ter construído o Brasil, assim como Macunaíma se julgava capaz de controlar o universo manipulando monstros e deuses”, proferiu.


A fala dura só deu trégua quando cessaram as folhas de papel nas quais Tasso lia sua despedida. Com a voz aparentemente embargada, ele saudou o Ceará, os colegas de Senado - “até os amigos do cafezinho, da portaria e dos elevadores” – e foi aplaudido pela plateia de senadores, aliados e adversários.


O senador Pedro Simon (PMDB-RS) chegou a derramar lágrimas. Tasso estampou um semblante tristonho, agradeceu por três vezes e permaneceu de pé na tribuna por cerca de três horas mais – tempo em que passou a ouvir palavras de apoio dos colegas.


Apartes

O único parlamentar do PT a acompanhar a despedida do cearense foi Eduardo Suplicy (SP), que saiu em defesa do Governo Lula, mas também elogiou um de seus principais opositores. Emocionada, a senadora cearense Patrícia Saboya (PDT) – eleita em 2003 através de uma dobradinha com Tasso – convidou o tucano a “voltar para nossa terra, nossas famílias, cumprir novas etapas da vida”. Patrícia também encerra carreira no Senado, mas para assumir vaga na Assembleia Legislativa.

À revelia da “aposentadoria política” prometida por Tasso desde a derrota, Pedro Simon propôs que ele não abandone a vida pública e pediu até mesmo que assuma o comando nacional do PSDB – o partido elegerá nova direção no início de 2011.


O atual presidente da sigla, Sérgio Guerra (PE), que estava presente no Plenário, não se manifestou sobre o assunto. Tasso – que já foi cogitado para o posto, mas teria negado interesse – fingiu não ter ouvido a sugestão do colega.


As palavras finais do cearense foram de resignação. Declarou amor ao Ceará, “independentemente de não ter ganhado a disputa eleitoral”, garantiu que parte com a consciência tranquila de que seus filhos e netos poderão se orgulhar e agradeceu novamente pelo apoio. Segundo sua assessoria de imprensa, o senador voltaria a Fortaleza na mesma noite.

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